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terça-feira, 29 de novembro de 2011

medo

em verdade temos medo.
pego mais esta emprestada do drummond para falar que nós, buddhistas, temos medos. e vou falar de um aqui, ou dois, se as idéias fluirem bem.
tenho percebido que nós, buddhistas, temos medo de parecer pessimistas. temos medo de que as pessoas saibam, porque até nós mesmos temos medo de saber, que o Buddha afirmou que a natureza da vida é o sofrimento.
bom, o Buddha não falava português, então Ele não usou a palavra 'sofrimento', mas sim 'dukkha', que pode ser traduzida por sofrimento ou outras palavras que estão mais ou menos ligadas a sofrimento, mas nunca a uma coisa boa ou desejável.
e sem dúvida que isso parece pessimismo.
me falaram que o papa paulo ll fez algumas observações neste sentido, de que o buddhismo seria pessimista. dado o respeito que temos pela instituição católica e seus representantes, isso só faz aumentar o nosso medo. eu, caso ele realmente tenha afirmado algo assim, concordo com o papa. do ponto de vista dele, e da maior parte do mundo, nós somos pessimistas. eles acreditam que a realidade foi obra de uma entidade plena de amor e bondade, com um propósito bem definido, logo, a vida, fundamentalmente, não pode ser associada ao sofrimento. bem simples assim. uma visão que, de fato, está de acordo com nosso natural apego à vida, se não for fruto deste.
temivelmente para eles e para nós, buddhistas, as coisas não são assim.
o Buddha ensina que a existência é fruto de um processo contínuo de condicionalidade, sem começo, sem propósito. despertou para este fato e declarou taxativamente, como registram as escrituras antigas, que 'todos os fenômenos condicionados são dukkha'. por mais que possamos nos retorcer e nos esconder nas sombras de nossas próprias visões, raciocínios e amedrontadas elucubrações e esperanças, não conseguimos escapar completamente da intensa luz que emana daquela sucinta frase do Buddha: todos os fenômenos condicionados são dukkha.
e, em verdade, temos medo.
justificável pelo nosso instinto, nossa cultura, nossas impurezas mentais. mas não aceitável.
um fator que penso ser responsável, e do qual parece que poucos suspeitam, é que nós não confiamos no Buddha. nós recitamos cânticos, fazemos prostrações, até meditamos e tomamos preceitos, mas tudo fica alí pelo neocórtex. porque se confiássemos no Buddha não sucumbiríamos ao medo. o Buddha não parou na constatação do problema, o Buddha não disse que a existência é dukkha e ponto final, Ele afirmou que o fim de dukkha é possível e definitivo e que há um caminho ao alcance de todos para este fim. há o Nibbana, o fim completo de todo sofrimento.
mas quem de nós está interessado no Nibbana? e aí pode estar um outro fator que nos mantem nas mantas do medo: o Nibbana, pelo tempo afora, foi-se tornando esquecido. tornou-se, convenientemente para nossa ignorância, um mito. quanto menos se fala do Nibbana, mais o nosso medo se sustenta. e, em verdade, acabamos a temer também o próprio Nibbana.
apesar de parecer que não, pois falamos do Nibbana. mas ele foi transformado para caber no nosso medo: virou um paraíso, um bem, um tesouro. e deixou de ser aquilo que o Buddha ensinou: o fim da exsitência condicionada, o fim de dukkha.
assim nosso medo se fortalece, pois não temos nada a oferecer quando nos acusam de pessimistas, só o Nibbana, só um mito, uma quimera idêntica a de todas as outras religiões, para depois da morte, depois do julgamento ou depois de qualquer outra coisa. e olha só o que o medo e a estupidez fazem com a gente: tememos e nos escondemos do rótulo de pessimistas ao mesmo tempo que nos assumimos praticantes da religião que é, em verdade, a mais otimista de todas! pois é a única (que eu conheço) que afirma o fim de dukkha em vida. pois o Nibbana, ensinado pelo Buddha, e esquecido por nós, não é uma promessa para além túmulo. é uma realidade experienciável aqui, nisto que compartilhamos como existência.
temos o mais otimista dos mestres, a mais otimista das religiões e nos mantemos tremulamente encalacrados. alimentando nossa ignorância e temendo a dos outros.
não é até engraçado?
em verdade somos engraçados.


quinta-feira, 10 de novembro de 2011

sem suco, sem fritas

...eu não tenho paciência... horrível isso, mas não consigo...
olha, paciência é uma coisa que surge na dependência de outras coisas. querer ter paciência já é perigoso. a gente perde a paciência com a gente mesmo por não conseguir ter paciência!
he, he, he... mas como é que a gente consegue, então?
eu acho que é preciso alimentar alguns pensamentos, algumas formas de ver a vida... com relação a formas de ver a vida, eu acho que é um fator importante que nos dificulta a paciência... nós temos o senso comum de achar que a vida é bela, uma graça, uma bênção. isto implica diretamente em nos considerarmos importantes, perfeitos, certos. nos vemos como o padrão de qualidade do mundo. logo, alguém que se comporta divergindo do que vemos nos é difícil tolerar.
hmmm
então, o que me ajuda muito a ter paciência é ver a vida de um  modo que para mim está mais de acordo com a realidade. vejo a vida como o resultado de um conflito na fuga da dor. estamos todos em conflito na nossa fuga da dor, todos nós, eu, você, as minhocas, os tatus-canastra.
hehehe.
a essência de viver é este fugir, e nessa fuga nos trombamos uns contra os outros.
hmmm
li uma frase do Saramago: somos todos uns pobres diabos. é o resumo perfeito do meu mestre das letras. se enxergamos a vida sob este ângulo mais realista, de que somos todos presas em fuga, a paciência, a tolerância e até um pouco de compaixão põem a cabeça pra fora do nosso lamaçal interior. nós temos a certeza de que a felicidade é uma questão de ter mais prazer. mas me parece que, na verdade, é uma questão de ter menos dor. se eu penso assim, a percepção das situações em que a dor aumenta se aperfeiçoa e aí a paciência revela sua real importância como fator que evita mais dor. e começa a surgir sem tanto esforço, vai-se tornando natural. naturalmente vai surgindo... podemos perceber que o nosso mundo não precisa de mais conflito, não devemos ser fonte de mais conflito e dor, a irritação começa a doer...
é... faz sentido...
muito sentido. é oriundo da minha forma de praticar o buddhismo, mas tem um sentido que não depende de ser buddhista para enxergar...

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

baldrian, o coelho

desde quando, já faz tempo, assisti a este desenho da TV Cultura de SP tenho procurado por ele. eis que agora encontrei.
é uma fábula bastante impressionante, justamente por ser destinada a crianças bem pequenas, eu acho.
valem os minutos para qualquer idade.


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