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Bornes relacionados com Miniaturas

Buscando...?

sexta-feira, 31 de maio de 2013

não

estou cada vez mais convencido a só negar. afirmar qualquer coisa é um tiro no pé. o Buddha negava em sua pedagogia, e eu acho que categoricamente só afirmou duas coisas: o sofrimento e o seu fim. 
se você afirma alguma coisa, logo é identificado (e se identifica) com tal coisa de forma absoluta: dia destes afirmei minha concordância com a legalização da união homossexual. pronto, virei gay. ou ao menos 'ainda não' para aqueles que me ouviam. 

o Buddha até o momento para mim, afirmou coisa alguma com respeito a o que é o ser, só negou: o ser não é isso que pensa; se pensa, isto mesmo é que não é.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

simples ficando ll

na disciplina do Buddha, do encontro do objeto com a percepção surge o mundo.

se uma mente não desperta, mais ou menos assim: um carro... um opala... rosa... bonito... do mário... o que saiu do armário... e a mente não desperta segue se enrolando num emaranhado de conceitos. 
papañca-saññā-saṇkhā

se uma mente desperta:
um carro... anicca, dukkha, anattā, paz... um opala... anicca, dukkha, anattā, paz... rosa, anicca, dukkha, anattā, paz... ...anicca, dukkha, anattā, paz...  ... anicca, dukkha, anattā, paz... paz... paz...
paz.



entenda, melhor que eu, este processo fundamental no livro Concept and Reality do Venerável Bhikkhu Kaṭukurunde Ñāṇananda
só em inglês, por enquanto.

terça-feira, 28 de maio de 2013

diálogo entre religiosos

... então neste dia, que está próximo, haverá o julgamento e os merecedores ganharão a vida eterna num mundo renovado. 
e os que morreram?
ressuscitarão.
e os que forem julgados não merecedores?
permanecerão mortos ou morrerão.
não haverá punição?
não! só não serão recompensados com a vida eterna...
então deixarão de existir...?
sim, pode-se dizer que sim...
então, como não tenho como saber qual de nós está certo, caso você esteja eu já estou no caminho da recompensa que me interessa, não existir me parece bom...

domingo, 26 de maio de 2013

o pior cego

"O pior cego é o que quer ver."
Millôr Fernandes

"Tanto antes como agora, o sofrimento e sua cessação eu proclamo."
O Buddha

O Buddha ensinou só duas coisas. Coisas que não queremos ver. 
Uma, o sofrimento, a palavra original é dukkha. O consenso é que 'sofrimento' não é uma tradução perfeita, com o que eu concordo. Já fui quase convencido de que não é a menos ruim, mas por hora acho que é sim a menos ruim. Volto a isso num outro dia.
Evidente que não queremos ver o sofrimento, não queremos envelhecer, adoecer, morrer, perder,  sofrer.
A outra coisa que o Buddha ensinou, a cessação do sofrimento, também não queremos ver. Parece que queremos, mas acho que não. Já estive na presença de gente que 'só queria que essa dor passasse', mas aí é no fim, no extremo, quando não há mais o que fazer. Na maior parte das vezes, enquanto há o que fazer,  o que queremos é substituir dor por outra coisa. 
Pela cessação, pelo apagamento, pelo nibbāna talvez leve tempo para nos interessarmos.
Enquanto isso vamos tateando, cegos por ver demais, vendo o Dhamma do Buddha como queremos ver.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

simples ficando

pensamos 'o rio corre' e 'o rio corre' falamos. embora não haja rio algum além do correr. é o correr que é o rio. se não corre, rio não é. mas pensamos 'o rio corre' e 'o rio corre' falamos. na nossa cabeça há um rio que só há na nossa cabeça.

pensamos 'eu sou' e 'eu sou' falamos. embora não haja eu algum além do ser. é o ser que é o eu. se não for, eu não é. mas pensamos 'eu sou' e 'eu sou' falamos. na nossa cabeça há um eu que só há na nossa cabeça.

simples vai ficando quanto mais vejo através dos suttas iluminados pelas palavras do Venerável Bhante Katukurunde Ñanananda.

"When one says 'the river flows', it does not mean that there is a river quite apart from the act of flowing."

do 13º sermão da série Nibbāna - The Mind Stilled

Quando se diz 'o rio flui', isso não significa que haja um rio a parte do ato de fluir.

visite +Bhante Katukurunde Ñanananda 


terça-feira, 21 de maio de 2013

fé no chão

A frase que me guia pelo estudo e prática do buddhismo foi proferida pelo Buddha no Anurādha Sutta como resposta final a uma série de perguntas especulativas sobre o que acontecia a um Desperto após a morte: pubbe cāhaṃ Anurādha etarahi ca dukkhañceva paññāpemi dukkhassa ca nirodhaṃ. Tanto antes como agora, Anurādha, é somente o sofrimento e a cessação do sofrimento o que eu proclamo.
Ou seja, alguém chega até o Buddha flutuando numa nuvem de especulações e idéias e Ele puxa tal pessoa pelo pé e põe de volta no chão. É um movimento comum nos discursos do cânone antigo. Inclusive no vasto uso de metáforas empregadas pelo Buddha, elas sempre são no sentido de tornar palpável coisas que parecem etéreas, é sempre um direcionar para a experiência, para a experienciação sensorial/sentimental ou, me arrisco a dizer, "sensacional", as imaginações, ideações, conceitos. Há um sutta, não me lembro qual agora, em que o Buddha diz que um Arahant sabe que livrou-se das corrupções latentes da mente da mesma forma que um homem saberia ter seus pés e mãos cortados. Isto é sensacional. Todo o caminho buddhista é no sentido de arrefecer a dicotomia mente/matéria apesar de a gente, muitas vezes, persistir no contrário.
É comum chegar ao buddhismo flutuando nas mesmas nuvens que o Anurādha. Há quem fique nisso por muito tempo, a pensar sobre estados elevados de consciência, conhecimento de vidas passadas, poderes, luzes, cores e iluminações, condicionando seu caminhar espiritual a achar um pote de ouro no fim do arco-íris. Um aspecto pernicioso desta estagnação para um buddhista é que este tipo de pensamento garante que a pessoa continue escrava do mundo com a boa desculpa de que 'ainda não tem realizações, ainda não chegou lá, então tudo bem uns escorregões aqui e ali'. Exatamente como acontece com alguns teístas cristãos. Gosto de dialogar sobre religiões em geral e sempre que dá deixo claro minha opinião sobre Jesus ser um modelo a ser seguido, não é raro ouvir um 'ah, mas Ele É O FILHO DE DEUS, né?'. Triste.
Enquanto isso, lá no Satipaṭṭhāna Sutta, o Buddha afirma que o Despertar pode ocorrer em dias se a atenção vigilante for plenamente estabelecida no defecar e urinar entre outras coisas que se faz aqui no chão. 

sábado, 11 de maio de 2013

ecos


poucos dias atrás, no trabalho, alguém me diz: "cara, a beleza da vida são os altos e baixos, alegrias e tristezas, os revezes e oportunidades". quem passa por aqui imagina o que eu disse. 
mas vai que imagine errado, vou dizer o que eu disse: "é". só isso. 
eu só disse "é".
porque é assim que as coisas são. a pessoa só segue o giro reagindo e ecoando o que vem do mundo. 

e, para nossa alegria, entre buddhistas há também este ecoar.
gostamos de encontrar o sentido da vida numa margarida. 'a vida é bela! contemple a beleza de uma margarida! celebre a existência da margarida!'. 
mas na verdade, o próprio fato de precisarmos de uma margarida para 'sentir' é o problema. ao menos falando como buddhista até onde eu entendo o Buddhadhamma. 
no aryiaparyiesana sutta o Buddha conta que fez a si mesmo, antes do despertar, a seguinte pergunta: por que estando eu sujeito ao envelhecimento, doença e morte (sujeito à impermanência e dukkha) busco por aquilo que também está sujeito como eu? o Buddha é sempre simples e direto, extrapola na sinceridade que evitamos. 
o alívio que vem da visão da margarida é só isso mesmo, um alívio pífio, pode ser saudável e funcional, mas nada mais. precisamos deste alívio para seguir na busca que o Buddha ensina como sendo nobre, a saber, estar em paz com ou sem margaridas, céu azul, briza fresca e etc. paz que vem da penetração franca e corajosa, e aí está aquilo que torna o Buddhadhamma o mais fantástico dos caminhos para a felicidade, na natureza capenga da margarida, na futilidade e completa inutilidade da existência de uma margarida. mergulhar destemidamente na investigação de dukkha sem se deixar enganar pelas flores do caminho. esforçarmo-nos em não permitir que qualquer alegria condicionada nos faça esquecer que 'é só dukkha que surge e cessa'. um sorrisinho aqui, um suspirosinho ali mas o que interessa é a felicidade de se compreender a si mesmo, cada vez mais claramente, como suportando algo difícil de suportar em nome de se fazer capaz da busca nobre. como diz o venerável  +Bhante Katukurunde Ñanananda no segundo sermão da série Nibbāna - The Mind Stilled com respeito à natureza da existência:  

All that is there, is a bearing up with difficulty. And this in fact is the meaning of the word dukkha. Duḥ stands for 'difficulty' and kha for 'bearing up'. Even with difficulty one bears it up, and though one bears it up, it is difficult.

Tudo o que há é um sustentar/suportar com dificuldade. E isto de fato é a significação da palavra dukkha. Duḥ significa 'dificuldade' e kha 'suportar'. Mesmo com dificuldade suporta-se e, embora suporte-se, é difícil."




sexta-feira, 10 de maio de 2013

há dhamma

numa sala de reunião em que se trata com enorme seriedade de assuntos relativos ao continuar do giro do mundo com cada um interessado em manter seu próprio mundo girando há dhamma. 
no meu corpo o desconforto: eu respiro, se inspiro eu preciso inspirar, e vice-versa, todo o tempo. minhas pernas, minha coluna, minhas nádegas, meu pescoço, meus ouvidos, meus olhos, por trás deles sempre presente uma vontade de não querer ser dor. 
inútil. 
e cada mudança de postura é fruto da esperança desta elucubração que não quer ser desconforto. 
inútil.
o mundo gira. e cada mundo ao meu redor naquela sala.
um movimento neste, outro naquele, um sispiro leve, outro mais profundo, outro coça a cebeça: todos em tentativas vãs de deixar de ser desconforto, o desconforto do giro do mundo. somos todos iguais, pobres diabos, bolotas de deterioração.
numa sala de reunião em que se trata com enorme seriedade de assuntos relativos ao continuar do giro do mundo com cada um interessado em manter seu próprio mundo girando há dhamma.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

cão


feliz foi o nome dado pelo mais novo da casa ao recém chegado cão. 

os mais novos, com a desculpa justa da imaturidade, carecem de olhos precisos, tudo que lhes parece bom é totalmente bom. feliz ficou sendo.
a manhã daquele dia raiara obediente às preces e desejos de todos. seria dia de praia. que felicidade. e a felicidade do dia estava plena daquele poder que tem de cegar, excitar, confundir. batiam uns nos outros nas céleres arrumações para o passeio. feliz saltitava. 
nós, que agora observamos a cena, apesar de podermos sugerir alguns outros nomes como fiel, amigo, belezinha, carinhoso, não temos como discordar do batismo feito pelo menor de todos: feliz era isso mesmo acima de tudo. 
feliz, por misteriosa influência do nome, ou mais certo, meramente por ser um cão, era incapaz de ver que o passeio não era para ele. feliz  ficaria.
um grita daqui, outro cobra de lá, aquela responde, alguém confirma: tudo pronto! vamos embora. 
feliz fica. agora só nome.
na barafunda daquela manhã, entre ralhos e afagos, inventaram coisas demais para muitos darem conta. ninguém lembrou da vasilha de água.
feliz já sentia sede.

pra você, eu e todo mundo cantar junto

um bom amigo tem se interessado por buddhismo e meditação, variando a ordem dos interesses. tem lido e pesquisado na rede e diz inclusive que descobriu este blog googlando em busca de dhamma  por aí. gostei! 
ele está, como a maioria de nós, entre o nosso lar e a vida sem lar. 
caminha.
numa conversa recente me dizia que "assunto espinhoso este de anattā! esta coisa no buddhismo é que é difícil, hein?". percebo que o rapaz tem bons olhos, já vi e vejo de gente mais adiante na senda afirmar que 'é só desapegar, é só não ter apego...' 
só, olha só. 
o venerável bhante katukurunde ñanananda diz em algum dos sermões sobre nibbāna que realizar anattā é, em si mesmo, o nibbāna.
que bom que seja fácil para alguns. que bom que haja alguns capazes de ver e reconhecer os espinhos. anattā, anicca e dukkha não são visões ou crenças a se adotar, são experiências a se ter. primeiro estudamos, lemos e compreendemos; comparamos esta compreensão com o mundo que conhecemos em seus aspectos interno e externo e decidimos se vale a pena continuar aprofundando as percepções que surgirem. 
se somos sinceros, talvez este estudo comece a vir de encontro ao rumo que naturalmente temos mantido na vida, me parece que é neste momento que devemos abrir bem os olhos para sinceramente ver que não é fácil ou se está sendo fácil demais.

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