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Buscando...?

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Relações


Sendo a interdependência uma das palavras chave do buddhismo, isolar fatores do Caminho é apenas um recurso pedagógico. Todos os fatores estão relacionados e suas causas e condições são várias.
Uma relação entre fatores na qual eu gosto muito de pensar é na dos fatores renúncia (nekkhama) e compaixão (karuna).
Penso que sem renúncia, a compaixão, tal qual ensinada pelo Buddha, não pode existir. Naturalmente quando sentimos compaixão esta é, na verdade, algo mais próximo da dó, da pena. Tendemos a nos colocar 'acima' do objeto, aquele ser que sofre: "Coitado, como sofre!" Se há um esforço pela renúncia, juntamente com a compaixão, o sentimento de superioridade tende a arrefecer-se. Fomentando a renúncia, nos tornamos cada vez mais aptos a perceber que estamos todos no mesmo barco furado cujo motor é a ignorância e, embora existam diferentes níveis de sofrimento e de urgência nas ações a serem tomadas contra ele, em última instância, dukkha é onipresente no samsara e todos os seres samsaricos são dignos de compaixão. Nós inclusive!

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Retiro


Pessoas comprometidas com caminhos espirituais costumam aproveitar os feriadões para passar em retiros, afastados do mundo.
Falando como um buddhista, a vida que experienciamos, surgida das causas e condições que criamos impulsionados pela nossa ignorância, nem sempre corresponde (ou quase nunca?) àquela que desejamos. Há inúmeros motivos a nos impedir de ficarmos longe do mundo.
Há o retiro físico, quando nosso corpo está afastado e há o retiro mental. São complementares, um não substitui o outro. Idealmente devem estar sempre juntos.
Idealmente.
Acho que se a mente não acompanha o corpo num retiro, se ela fica vindo 'cá pra fora' insistentemente, isso não deve impedir ou desanimar o retirante. Da mesma forma, caso o corpo não possa 'ir' para um retiro, não é preciso deixar a mente 'solta no mundo', só curtindo o feriadão!
Podemos nos esforçar em manter a mente voltada para o caminho, podemos aproveitar o tempo extra que temos para contemplar, estudar, meditar. Podemos dirigir a mente à observação atenta dos efeitos de nossas ações e comportamentos, a influência da nossa mente, nossos hábitos e ações no ambiente que nos cerca e a influência que esse ambiente tem sobre nós. Um pouco livres de parte de nossas obrigações, podemos usar essa relativa tranquilidade para nos aprofundar nas nossas experiências cotidianas, afinal, é um momento em que temos um pouco mais de liberdade de escolha, podemos usar essa relativa liberdade em favor do espírito ao invés de focar na liberdade que não temos como desculpa para a indulgência e a preguiça.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Crise


Foi uma crise pessoal, em 1995, que me fez querer conhecer o buddhismo. Nesse tempo até aqui, algumas outras crises, ajustes no caminho, desvios, perguntas, respostas e tendo conhecido o buddhismo antigo nos suttas em páli, a agradável sensação de ter encontrado.
Na minha região, uma única empresa demitiu cerca de 4.000 pessoas. Quatro mil pessoas! E pelo mundo todo é do que se sabe. Gente sendo expulsa da roda da economia, gente que não pode, por um breve período, espera-se, dar o seu empurrãozinho na roda. Gente sem comprar celular, gastar nos shoppings, pagar seguro, queimar combustível... Filhos fora de boas escolas que os habilitariam a fazer parte do esforço de manter o giro da roda... E outras desgraças mais.
Uma crise deve servir, penso eu, para reflexões, questionamentos, demolições, reconstruções, reformas, avaliações e por aí vão os lugares comuns... Mas não é isso que se vê. Que eu vejo. Não há questionamentos! O esforço, o conselho, as instruções, o objetivo e o desejo geral é o de voltar para a roda.
Só isso.
Voltar para o mesmo barco, ou um outro igual ao, que afunda! Todos empenhados em refazer o mesmo ciclo...
Lembro que o meu desemprego, lá em 1995, foi o estopim daquela minha crise...

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Cultivo


Uma pessoa decide cultivar uma horta. Separa uma parte do seu dia, talvez, das 8 às 9 da manhã, para se envolver totalmente com os cuidados devidos.
Numa tarde, ao passar por perto de sua horta, vê uma ninhada de larvas de borboleta a se banquetear com suas verduras! Mas então ela pensa que 'amanhã tenho das oito às nove para resolver esse problema...'
A palavra pali 'bhavana', que é traduzida como 'meditação' parece-me que tem o significado mais exato de 'cultivo', 'cultivo da mente'.
Independente do tempo que se dedique à meditação formal, seja de que tipo for, o buddhista que esteja seriamente comprometido com realizar os resultados que o Buddha ensinou serem o fruto da prática de seus ensinamentos, não pode limitar-se àquele período.
Em relação à horta, temos a vantagem de a mente estar sempre aqui presente. Não precisamos passar por perto para ver se há alguma providência a ser tomada, basta ter atenção.
O trabalho de cultivo envolve o estudo, a reflexão, a observação, o auto-questionamento e um aprofundamento constante em todas as experiências cotidianas. Deve estar vigilante e presente a todo momento, pois as ameaças ao objeto do cultivo não tem hora para agir. Ou melhor, agem todo o tempo...

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Felicidade = Facilidade

O Buddha, antes de ser o Buddha, era um príncipe de um poderoso clã hindu. Como tal, prazeres sensuais eram uma constante em sua vida. E também acesso a atendimento médico da melhor qualidade, boa e farta comida, cultura, enfim, uma vida de príncipe. E o que ele fez foi deixar tudo isso para trás e sair pelo mundo pedindo esmola.
E meditando e estudando, é claro, em busca de algo que fosse satisfatório, que fosse final, que fosse a paz.
A visão da insatisfatoriedade dos objetos dos sentidos não é uma coisa simples e fácil de se conquistar, mas isso não significa que podemos, como buddhistas, abdicar dela. Uma parte significativa desta busca é reconhecer o papel da 'felicidade' em nossas vidas de buddhistas.
Boa parte daquilo que entendemos como felicidade é o acesso que temos aos bens materiais. Prazeres sensuais, acesso a bons médicos, boa e farta comida, cultura, enfim, uma vida... como todo ser humano deveria ter. E qual é o papel desta 'felicidade'? Penso que boas condições devem ser vistas como fatores que facilitam a busca pela transcendência e só. É mais fácil meditar sem fome e com o corpo são. O próprio Buddha veio a constatar após um período de ascetismo extremo!
Por mais triste e revoltante que seja, a realidade é que uma vida de encanto e deleite com a felicidade mundana, isso para não falar em uma busca sedenta por ela, é incompatível e inconciliável com o ideal buddhista. Uma vida feliz, nos moldes em que prega o mundo, se não for vista como apenas uma facilidade com a qual podemos contar para trilhar o caminho, torna-se um forte empecilho.
Eu acho.
Nenhum de nós precisa sair por aí pedindo esmola de uma hora para outra, mas devemos tirar um ensinamento do exemplo extremo do Buddha. Um claro, óbvio e inquestionável ensinamento sobre o papel da 'felicidade' em nossas vidas.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Causas e Condições II


Pensando em termos de condicionalidade, diante dos gostos e desejos passamos a nos comportar como a criança que puxa a barba do Papai Noel.
As condições do que é tão único, tão nosso, tão nós, se insinuam. O momento influencia, nossa disposição mental, nossa condição física, o tempo, o lugar... Enfim, são tantos os fatores que compõem os nossos quereres que eles e, em inevitável consequência, aquele que quer, assumem a aparência de uma projeção, um jogo, (de) sombras e cores, uma mistura e, não mais, um.
Os gostos e desejos podem não ser o que sempre pareceram ser, e dessa desconfiança o próprio status do eu fica abalado...

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Anicca, Dukkha, Anatta

...me parece ser uma tarefa mais promissora contemplar as três características numa taça de sorvete que num câncer de fígado...

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