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Buscando...?

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

paṭisotagāmi

chego ao dhamma do Buddha, talvez, por causa de uma impressão de que algo vai mal. nalgum canto da vida há qualquer coisa que miasma ocultada pelas minhas visões. há um quê que atravanca. chego por estar manco, por ter um falseio que engasga a respiração. talvez seja assim.
das vezes que são, chego do modo que sei, nos moldes dos meus hábitos: querendo.
quero cura, quero saúde, quero paz, quero melhora, quero ser. quero para continuar vivendo, com sucesso, minha existência. me livrar do mal estar.
chego, geralmente, de leituras, de programas de tv, de fontes onde muita beleza é dita. onde falam de mente clara, de paz interior, de amor vasto, verdadeiro e pleno, de energia interior curativa, de compreensão superior e muitos outros consensuais objetos de desejo. e quero.
mais ou menos como indo às compras, parto a meditar, a recitar, a me prostrar, a falar de amor. mais ou menos como a última compra, estas coisas começam a me frustrar.
logo parece que não consigo mais paz do que um ou dois minutos de entediante sentada, não amo mais gente do que aqueles de sempre a quem, vez ou outra, odeio intensamente. a calma interior não resiste ao copo que vira, ao pneu que fura, ao infeliz com quem eu trabalho. continuo sendo só o de sempre com um rótulo a mais, novos gestos, vocabulário, mais alguns amigos e compromissos.
deixei passar alguma coisa.

acho que você deixou. num sentido, deixou passar.
ignoramos onde estamos.
o Buddha, antes de tudo, nos diz onde estamos, o que somos. algo que, geralmente, julgamos já saber.
mas saber onde estamos, de acordo com o Buddha, implica em descobrir que não há para onde ir, o que somos em não  haver mais o que ser. então sabemos, sem querer, ignorar.
apesar de o Buddha só ter ensinado sobre duas coisas, dukkha e o seu fim, nos interessamos somente pela segunda por escolher acreditar que sabemos tudo da primeira.
sabemos que algo vai mal, sentimos aquele engasgo, nos basta. pensamos que basta para sair e querer o seu fim. mas talvez não seja assim.
são só pequenos sinais para que fiquemos e vejamos com paciência e sabedoria. desaprendamos muita coisa. o mal cheiro que sai por aquele canto está sob todo o chão. é ficar e ver.
e, neste sentido, você não está deixando passar.
o Buddha ensinou a ir contra a corrente do mundo. a corrente do mundo nos atravessa, somos a própria corrente que perseguimos, não deixamos passar, não olhamos e vemos passar. não paramos, e seguimos sendo o mesmo.
quando os primeiros sinais da miséria incomodam, é aí que devemos abrir bem os olhos e parar para ver. o primeiro movimento contra a corrente é parar. e começarmos a saber onde estamos e o que somos de verdade.
querer é a corrente do mundo, sem saber muito bem.


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

eu acreditara

chegara eu feliz ao trabalho (permitam-me a licença poética), cumprimentando um e outro vou até maria que estava a ouvir josé: quando mais me aproximo vejo que josé estava dando um belo de um esculacho em maria. 
rauf, rauf, auf, auf, rarrrgh, auf...
dou meia volta e, de longe, volto depois que josé se vai. 
o que houve, pergunto à maria que chora e diz: cain, cain, cain, cain, nnnn, cain...
calma maria, calma...
lhe ofereço um copo d'água.
se acalma, depois a gente conversa...
passa um tempo e resolvo ir até a sala do josé.
josé, boa tarde, o que houve lá com a maria?
ah, blá, blá, blá... resumindo: josé disse que maria havia sido deselegante, mal educada, feito escândalo por coisa insignificante na frente de pessoa estranha dentro de sua sala. sim, sim, entendi o josé. não era a primeira pessoa que afirmava tais coisas de maria. até achei bom que ele falasse diretamente com ela. fazer o que? paciência tem limites.
e mais tempo, maria melhor, e comentários, e trabalhamos.
e, mais tempo passado, berenice me diz que maria entrara a pouco na sala de josé a pedir desculpas pelo comportamento. meu coraçãozinho palpita. fico feliz. ora, digo que preciso cumprimentar maria pela bela atitude. indago berenice se de fato é fato e ela me garante que sim, que viu, que estava presente.
que ótimo, penso eu. nem tudo está perdido, uma bela atitude merece reconhecimento, que legal. e sigo eu, saltitante e crédulo ao encontro de maria assim que a oportunidade surge. digo a maria que bela atitude, muito bom maria, fico feliz de saber que você tomou a iniciativa de se desculpar, muito bem, é muito melhor assim. no que maria, séria, circunspecta e serena me diz que ela é deste jeito, se estou errada eu reconheço, é como eu sou, e não há nada demais em pedir desculpas, oras.
meus olhos marejam. muito bem maria, que belo, penso eu, e o dia segue.
então eu conversava com venceslau e o assunto da maria chegou. mas eu achei uma atitude legal a de maria, hein, venceslau? ir lá pedir desculpas depois do ocorrido. venceslau dá um sorrizinho. diz que depois da lavada que ela levou do sr. zeus tinha mais é que ir rapidinho mesmo. com estranhamento eu digo, como assim? ué,  diz ele, alguém informou, e devem vir já informando ao sr. zeus sobre maria há algum tempo, que a chamou e soltou raios e trovões sobre ela blá, blá, blá... saiu de lá com olhos esbugalhados e correu para pedir desculpas.
bom, como eu sou trouxa.
maria só teve medo. medo não é nobreza. e ela sabe o que é nobreza ou não teria simulado tal atitude quando fui cumprimentá-la.
maria sabe bem o que é nobreza. porque disso ela fala. critica a falta de ética dos políticos, é politizada, a maria. tem causas, inclusive, pelas quais versa e age. é engajada a maria. fala bem a maria sobre muitas coisas certas.
mas a maria errou do início ao fim desta história e eu voltei à minha condição básica de desgosto.
sabbe sankhara dukkha. eu lembro.
lembro dessa e de ajahn chah que diz que somos todos bolotas de deterioração. lembro que somos massas de conflito gerados e girando em torno e a proteger o produto de uma percepção distorcida. agregados em um revolver ignorante entre intervalos de esquecimento. pobres diabos. lembro que somos todos pobres diabos. é assim.
ainda me impressiono, apesar de tudo, me esqueço e volto a acreditar que isso um dia vai dar certo. não vai. vai ser menos ruim, faço o possível para que seja, inclusive. mas é só. só menos ruim. sem empolgação até o fim completo.
e dou risada.
e sigo feliz, sem licença poética desta vez.

e qualquer semelhança com a realidade é porque a realidade é assim mesmo. estas coisas acontecem.


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

sadhu

em 23/11/11 eu publiquei aqui uma 'resposta aberta' ao sr. michael beisert que havia dirigido uma 'carta aberta' ao professor ricardo sasaki, diretor fundador do centro de estudos buddhistas nalanda e da comunidade nalanda da qual faço parte. não sei se no mesmo dia ou poucos depois dirigi um comentário ao blog 'dhammarakkhita' que havia manifestado apoio à tal carta do sr. beisert.
é com alegria que tomei agora conhecimento de que este blog manifestou sua retratação tanto para com o professor sasaki quanto à comunidade nalanda. esta atitude, em minha opinião, é digna de louvor e regozijo para todos aqueles que aqui, no nosso brasil, uma sociedade já tão esculhambada, tentam compreender, praticar e experienciar algo daquilo que lhes parece, ou ao menos deveria parecer, o que de mais sublime já foi ensinado neste mundo, a saber, a disciplina do Buddha.
sadhu.

sábado, 6 de outubro de 2012

nojo

véspera de eleições municipais. 
nenhuma época é melhor que a de eleições para enojar-se do mundo. 
queres fomentar tua renúncia, mergulhe na política e mergulhe em época de eleições: leia, assista, pesquise, reflita. dê ouvidos. conheça as pessoas a quem estamos submetidos, que nos regulam a vida, que legislam, que executam. conheça seus valores. pense a respeito. 
e experimente a desesperança, o desencanto, o desgosto que surge disso.
a imagem de um futuro que, na melhor das hipóteses, seguirá repetindo o presente. talvez com cada vez mais detalhes, mais notícias, mais opiniões, mais barulho. e por isso mesmo, mais funcional para aqueles que buscam pelo fim do mundo.
e é um fato tão claro...
uma frase de pontuação final desgraçadamente difícil:
haverá quem me sugira o contrário

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