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Buscando...?

domingo, 28 de julho de 2013

Concluindo...

A tradução "sofrimento" para a palavra dukkha certamente carece de explicação, e quanto melhor a explicação menos carecerá de substituição.
O buddhismo desde sua origem, e talvez mais claramente em sua origem, é uma doutrina que proclama o fim do mundo, o fim do mundo concebido. A primeira nobre verdade é a ignição do processo, é o choque inicial sem o qual o motor do dhamma não gira. Toda tentativa de evitar a palavra "sofrimento" me parece uma tentativa de girar o motor sem ignição. O questionamento a se fazer, ou a se fomentar, não é SE o Buddha usou a palavra "sofrimento"  mas POR QUE o Buddha usou a palavra "sofrimento". Esta me parece ser a forma adequada de fazer bom uso da energia inicial, do choque. Começar tentando amenizar, adoçar, só leva a convergir um caminho proposto para divergir, a manter o mundo que precisa ser decomposto.

terça-feira, 23 de julho de 2013

sofrimento é melhor

a palavra pali dukkha, usada pelo Buddha para designar uma das três marcas da existência juntamente com anicca e anatta, é mais comumente traduzida como sofrimento, implicando em que o Buddha afirma que uma marca da vida é o sofrimento. isto soa amargo, negativo, pessimista e entristecedor. e este é o principal motivo para a busca de outras traduções, não é tanto porque sofrimento esteja errado, é sim porque sofrimento não pode estar certo simplesmente porque não queremos que esteja.
se buscamos a etimologia da palavra vemos que du significa difícil e kha suportar. e o que é algo difícil de suportar? sofrimento. suportar no sentido de aguentar, resistir, sofrer. boa tradução para dukkha, portanto.
e um outro sentido de suportar é dar suporte, manter, sustentar. e o que é difícil de suportar neste sentido? felicidade/prazer. há uma estrofe, se não me engano, do erudito da vertente mahayana, aryadeva, que diz mais ou menos assim: "a felicidade decresce pelo acréscimo de sua causa; o sofrimento cresce". coisa que todos sabemos, embora prefiramos não saber. então parece que fica claro, sem fazer muito esforço, que sofrimento é uma boa, se não a melhor, tradução possível para dukkha pois se não conseguimos manter a felicidade nós so... so... isso! sofremos! pode não ser agradável dizer a alguém que chega ao buddhismo via livros de auto ajuda que uma das características definidoras da existência segundo o buddhismo é o sofrimento, mas isso não significa que temos que ficar fazendo piruetas etimológicas e raciocínios infantis para adoçar o que o Buddha disse, nem mesmo sob o argumento de que é um 'meio hábil', penso eu. porque a dependência de açúcar é coisa grave e difícil de superar. depois que adoçarmos o leite nunca mais o neném aceita sem.
existe uma outra coisa que dizem ser difícil de suportar mas que não percebemos por falta de dar a devida e correta atenção. 
mas essa fica para uma outra vez, talvez...

sábado, 6 de julho de 2013

dukkhinha quer ir pro espaço

numa animada conversa familiar sobre política, mídia e outras mazelas humanas, dukkhinha, se feliz ou infelizmente é algo a se pensar, com seu jeito de coruja observava tudo de um canto.
na volta pra casa, diz: acho que é por isso que quero ser astronauta, pra escapar desse mundo...

cacetada!
e agora? pensa o pai...
pensa o pai...

e diz:
carinha, não é bem assim. posso dizer uma coisa? olha, eu acredito que não é desta forma que se escapa do mundo, assim não dá certo. isso tudo de que nós estávamos falando lá, é de nós mesmos, não é que eles sejam o mal e nós o bem, somos todos humanidade, para onde nós formos vamos carregar isso com a gente. a forma de escapar é pela compreensão. a gente tem que mergulhar a compreensão neste mundo e ver através dele...

hmmm...

e a gente vê através do mundo quando se esforça em olhar pra dentro da gente. aí a gente começa a ver que muito do que parecia estar lá fora, na verdade sempre esteve aqui dentro... esta semelhança que vai surgindo é como ver através, e isso, eu acredito, é começar a escapar de verdade, sem precisar fugir daqui...

hmmm... acho que entendi o que você tá dizendo...

...

vamos comprar uma pizza pra comer com a mãe?
vamos!
beleza.






quarta-feira, 3 de julho de 2013

oh, vida...

eu não sabia, mas a questão sobre otimismo ou pessimismo já estava resolvida no majjhima nikāya e, felizmente, a declaração do Buddha não me surpreendeu.
está lá no dīghanakhasutta, onde o Buddha discorre sobre opiniões e pontos de vista e sobre a funcionalidade deles...

na tradução do acesso ao insight, quarto parágrafo: "dentre estes, o entendimento daqueles contemplativos e brâmanes, cuja doutrina e entendimento é ‘tudo é admissível para mim,’ está próximo da cobiça, próximo do cativeiro, próximo do deleite, próximo da agarração, próximo do apego. o entendimento daqueles contemplativos e brâmanes, cuja doutrina e entendimento é ‘nada é admissível para mim,’ está próximo da não-cobiça, próximo do não-cativeiro, próximo do não-deleite, próximo da não-agarração, próximo do não-apego". esta tradução parece estar baseada na inglesa do bikkhu bodhi que usa a palavra 'acceptable' para a qual o tradutor para o português preferiu 'admissível'. outras possibilidades são: 'satisfatório', 'apropriado', 'aceitável'. já na tradução do thanissaro bhikkhu para o mesmo sutta, que consta no access to insight, a palavra preferida foi 'pleasing', que em português tem as traduções 'satisfatório', 'bom', 'atraente', 'atrativo', 'agradável', 'encantador'.

o Buddha claramente diz, então, que ambos, otimismo e pessimismo são opiniões e, como tal, devem ser consideradas. porém, o otimismo, conforme expresso no sutta, está mais para o samsāra, enquanto que o pessimismo, conforme expresso no sutta, está mais para o nibbāna...

é isso mesmo ou alguém quer opinar...?

segunda-feira, 1 de julho de 2013

esses humanos

minha mãe é uma cristã fervorosa e nossos bate-papos vez ou outra giram em torno de religião. ficamos sempre por ali, nas semelhanças que conseguimos enxergar nos nossos caminhos. foi na minha última visita que ela fez uma citação dos evangelhos que muito me agradou. parece que ela sabe o que me agrada. disse ela que jesus certa vez desabafou: "até quando vos suportarei?!" se dirigindo a alguém que pedia mais um milagre. eu não tenho bíblia, mas fiz uma pesquisa e me pareceu um trecho muito interessante que vale ler e refletir. mais uma que passo a gostar além daquela clássica em que ele desce o sarrafo nos vendilhões e algumas dos apócrifos.
acho muito salutares estas passagens mais humanas dos mestres. são antídotos importantes contra a nossa tendência à divinização, além de motivadores à reflexão no nosso real campo de trabalho: a vida nossa de cada dia. nos ajuda a ir removendo a casca de mediocridade que a encobre.
e é divertido, tanto quanto pedagógico, visualisar os mestres olhando o balde a meditar: o balde é vazio... o chute é vazio... a vontade é vazia...
um momento desses, em que, segundo o +Bhante Katukurunde Ñanananda, o Buddha confidencia certo desânimo ao venerável Sāriputta, eu traduzi aqui. há também a conhecida passagem em que Ele hesita, logo após o Despertar, se ensina ou não o Dhamma que realizou. aliás, a vida do Buddha é um relato tremendamente humano embora, prova de força de nossas tendências, Ele não tenha escapado do endeusamento através do tempo e espaço.
um indicativo de que insistimos em procurar a 'salvação' no lugar errado?
é neste corpo e mente com suas precariedades que está o início e o fim do mundo, o início e o fim do sofrimento. está lá, disponível como nunca antes para todos nós, nas palavras daquele mestre insuperável de humanos e deuses que morreu com problemas abdominais e diarreia para nunca mais renascer.

Speech by ReadSpeaker