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Buscando...?

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

daqui de baixo


As minhas incursões pela superfície, por vezes rendem trapalhadas. Há muita côr, aparências, luzes, brilhos e reflexos. Por aqui, nas profundezas, é tudo mais claro. Nas sombras as cores esmorecem, as aparências transparecem, as superficialidades não tem sustentação. Mas o barulho por vezes é tão perturbador aí em cima que me atiça a natureza e acabo me arriscando.
Mas então me confundo. Fico realmente por fora.
É assim.
De tanta balbúrdia política, empolgado dei meus tropeços pelos caminhos enviezados e rumos emaranhados que, penso saber, não chegam a lugar algum. Não revelam nada. Nada além do que apreendo aqui embaixo.
Por mais que me capturem os olhos, pois minha queda é escrutinar, os encantamentos das variedades e nuances aí de cima, meu pensamento insiste, certamente por acostumado que está, em buscar o que a forma oculta, o que a casca encobre, o que a luz esconde. E me dano em apontar para as coisas que não interessam a ninguém daí, embora haja quem venha me bater à entrada da gruta! Quando me vejo, pois  o tempo que perco não olhando pra dentro logo me causa  falta, estou já todo enrolado! Aí sei que a hora é de me desembaraçar, desistir, esquecer, abandonar... Deixar que seja o que as coisas são, que vão como possam ir, e voltar para onde ando em paz, para onde respiro sem esquecer. Onde, quieto, aprendo das sombras.

***

Si surge algo desagradable, decimos: ‘¡Huye!’ Si alguien se cruza en nuestro camino, decimos: ‘¡Mátalo!’ Esta tendencia es a menudo evidente en cómo actúan nuestros gobiernos... Aterrador, ¿verdad?, cuando piensas en la clase de gente que gobierna nuestros países -porque todavía son muy ignorantes y no están iluminados. Pero así es como es. 

Se surge algo desagradável, dizemos, "Fuja!" Se alguém atravessa nosso caminho,  dizemos: "Matem-no!" Esta tendência é evidente na forma como agem os nossos governos... Aterrador, não é verdade, quando se pensa sobre o tipo de pessoas que governam os nossos países? Porque, em todo caso, eles são muito ignorantes e não  estão Despertos. Mas é assim que as coisas são. 

Do livro "Las Cuatro Verdades Nobles" de Ajahn Sumedho.
Publicado aqui em espanhol.

domingo, 12 de setembro de 2010

o mundo por um fio

"Muitos ficam tão intoxicados com impressões sensuais que são incapazes de perceber que existe um mundo lá fora. E, portanto, também são incapazes de compreender o inverso - eles não entendem que um dia o mundo vai acabar. Para nós, no entanto, basta que falhem algumas pulsações para que estejamos divorciados da humanidade para sempre."


'O Aranha' na página 49 do livro 'O vendedor de Histórias' de Jostein Gaarder.

Editora Cia. Das Letras

domingo, 5 de setembro de 2010

voto, respiração e Machado

"70% dos cidadãos votam do mesmo modo que respiram: sem saber por que nem o quê."
É um trecho da crônica 'Analfabetismo', de Machado de Assis, publicada em 15 de agosto de 1876.
Para um estudante/praticante (ao menos até que me provem o contrário) de anapanasati  como eu, este trecho tem um significado profundo. Na minha cabeça, pensando nele, aparece tudo interligado: o conceito que temos de liberdade, a sabedoria que se desenvolve na experienciação do processo da respiração, a ignorância que sustenta nosso modus operandi ordinário... Tudo aparece muito claramente conectado.
Tivéssemos algum conhecimento experiencial a respeito da lei de condicionalidade vendo com mais clareza a natureza do emaranhado em que estamos... Como seria ser/estar aqui e tudo o que faz parte deste processo? O votar, inclusive? Quanto a busca pela compreensão do mundo tendo como base a respiração, que revela uma imagem da condicionalidade, impermanência e imperfeição da vida pode nos ajudar neste aspecto do viver social num regime democrático que são as eleições?
Em mim, um ceticismo que julgo bom é um principal benefício.
Não espero nada além do que eu mesmo posso oferecer ao mundo e sei que oferecer o melhor ao mundo exige muito de mim. Não é simples fazer o que é certo porque tudo se sustenta sobre o solo corrompido e corruptivo da ilusão. Daquilo que nos chega da vida, ficamos com o que nos agrada. E o que nos agrada, quase sempre, é o que perpetua o engôdo. Retornamos ao mundo, via nossas visões, crenças e ações, aquilo que nos mantem na prisão que é a nossa ideia de liberdade. E assim, nos agarramos todos. Uns nos outros na beira do precipício.
A liberdade verdadeira começa pelo reconhecimento do quanto (ou do se) estamos presos. Fazer escolhas não significa muito se não tentamos compreender o que condiciona as escolhas que fazemos. Esperar daquele que escolho algo que não seja coerente com aquilo que eu mesmo sei que devo fazer pode ser um indicativo da natureza de tais condicionantes.
A primeira escolha deve ser sempre com respeito a minha próxima atitude. Essa é que vai legitimar todas as outras. E depende de uma compreensão que pode ser realizada, de forma ímpar, pela experienciação do por que e o quê respiramos (eu acrescento o como).
Pode não ter sido o que o Machado quis dizer. Mas acho que dá para dizer isso a partir do que entendi.

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