Horas antes conversava com um kalyanamitta sobre como concebemos o mundo sobre versões. Sobre as versões que nos chegam e sobre aquelas que construímos.
A versão de pai do meu filho não ouvia rap até ontem! Dali então, a versão é de um pai meio louco!
Embora eu sempre tenha ouvido rap.
A gente precisa ter atenção para a diversidade das coisas. O hábito de dizer "não, peraí!" precisa ser cultivado. As histórias que nos chegam e as que criamos podem ser muito boas, mas até que ponto elas convergem com a lucidez? Será que elas nos estimulam ou nos anestesiam com uma reconfortante preguiça de refletir um pouco? E, o pior de tudo, será que preferimos elas à lucidez?
Numa outra conversa com outra pessoa, é de preceitos que falamos. Do meu ponto de vista, meu interlocutor defende, de uma forma geral, a idéia de que os preceitos deixados pelo Buddha podem ser reinterpretados diante das necessidades da pessoa. Parece-me o mesmo ponto! Criamos a nossa versão do mundo e passamos a adaptar tudo a ela. Muitas vezes sobre a saudável noção da idolatrada liberdade.
Por em cheque a própria sanidade dói. Quem gosta de doença? Mas se queremos praticar o dhamma do Buddha, precisamos ter a coragem de procurar a nossa!
Dias atrás eu li que um cientista pediu para que outro não explicitasse as falhas que existem no sagrado modelo Big-Bang (a teoria sobre o início do universo) para que não desse margem ao aparecimento de dúvidas entre os não iniciados! Como se questionar fosse um impedimento ao progresso científico! Vejam só! Até aqui cria-se um modelo e adapta-se o resto a ele!! Até a racional ciência!
Os Racionais fazem uma boa música, na minha opinião! E, principalmente, boa poesia! Os rapazes nos contam como é um lado da vida que chega composto e acabado para uma grande parcela da população viciada em versões. Viciada em acreditar. A versão deles tem beleza, ao seu modo!
Ou a beleza surge da reflexão?
Viver num mundo sem solidez, em constante mutação, vendo o conflito que subjaz na origem, as tensões, incongruências, divergências... Ver que o mundo é produto, fundamentalmente de ausência e não de certeza, clareia a mente! Liberta! E a fortaleza da compreensão se sustenta sobre a fluidez da reflexão.
Nesta indestrutível fortaleza passamos junto com a vida. E ouvimos de tudo mas, idealmente, nunca sem refletir um pouco...