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sexta-feira, 30 de abril de 2010

não, peraí!

Pus para ouvir um CD dos Racinais MCs e meu filho disse: "Pai!! Cê tá ouvindo rap?!!... Cê é meio louco!"
Horas antes conversava com um kalyanamitta sobre como concebemos o mundo sobre versões. Sobre as versões que nos chegam e sobre aquelas que construímos. 
A versão de pai do meu filho não ouvia rap até ontem! Dali então, a versão é de um pai meio louco! 
Embora eu sempre tenha ouvido rap.
A gente precisa ter atenção para a diversidade das coisas. O hábito de dizer "não, peraí!" precisa ser cultivado. As histórias que nos chegam e  as que criamos podem ser muito boas, mas até que ponto elas convergem com a lucidez?  Será que elas nos estimulam ou nos anestesiam com uma reconfortante preguiça de refletir um pouco? E, o pior de tudo, será que preferimos elas à lucidez?
Numa outra conversa com outra pessoa, é de preceitos que falamos. Do meu ponto de vista, meu interlocutor defende, de uma forma geral, a idéia de que os preceitos deixados pelo Buddha podem ser reinterpretados diante das necessidades da pessoa. Parece-me o mesmo ponto! Criamos a nossa versão do mundo e passamos a adaptar tudo a ela. Muitas vezes sobre a saudável noção da idolatrada liberdade.
Por em cheque a própria sanidade dói. Quem gosta de doença? Mas se queremos praticar o dhamma do Buddha, precisamos ter a coragem de procurar a nossa!
Dias atrás eu li que um cientista pediu para que outro não explicitasse as falhas que existem no sagrado modelo Big-Bang (a teoria sobre o início do universo) para que não desse margem ao aparecimento de dúvidas entre os não iniciados! Como se questionar fosse um impedimento ao progresso científico! Vejam só! Até aqui cria-se um modelo e adapta-se o resto a ele!! Até a racional ciência!
Os Racionais fazem uma boa música, na minha opinião! E, principalmente, boa poesia! Os rapazes nos contam como é um lado da vida que chega composto e acabado para uma grande parcela da população viciada em versões. Viciada em acreditar. A versão deles tem beleza, ao seu modo! 
Ou a beleza surge da reflexão?
Viver num mundo sem solidez, em constante mutação, vendo o conflito que subjaz na origem, as tensões, incongruências, divergências... Ver que o mundo é produto, fundamentalmente de ausência e não de certeza, clareia a mente! Liberta! E a fortaleza da compreensão se sustenta sobre a fluidez da reflexão. 
Nesta indestrutível fortaleza passamos junto com a vida. E ouvimos de tudo mas, idealmente, nunca sem refletir um pouco...

3 comentários:

Anônimo disse...

Dias atrás li noutro blog sobre um livro que falava do hábito que (pasme!) Gandhi tinha de dormir nu, ao lado de jovens moças, também nuas.

Seriam experiências onde ele testava sua capacidade de resistir ao desejo. Sei...

Após morte do Mahatma, essas histórias acabaram obliteradas a fim de não denegrir a imagem do grande pai da Índia.

Foi um certo susto para mim. Nunca parei para questionar aquela versão idealizada de Gandhi. Nunca disse "peraí!". É tão mais fácil darmos as costas à realidade em favor de uma versão mais palatável aos nossos desejos e tendências. Preferimos um Gandhi puro, etéreo, assexuado e irreal ao Gandhi humano com virtudes, defeitos e lindas moças nuas do lado.

Anônimo disse...

"As histórias que nos chegam e as que criamos podem ser muito boas, mas até que ponto elas convergem com a lucidez?" Jorge, parece que criamos também uma versão do que seja a lucidez, não? Clareza e equanimidade são habilidades que à medida do nosso caminhar vão mostrando do que são feitas as nossas versões. Gostei muito da tua reflexão! abs. Fátima

Jorge disse...

...deparei-me com esta frase atribuída a um autor que começa a me interessar...

"Só tem convicções aquele que não aprofundou nada.""

Emil Cioran

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