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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

miséria é miséria...

Um amigo fazia considerações num grupo de estudos virtual sobre a etimologia da palavra karuna que é traduzida do pali como compaixão e isso estava lá num cantinho da cabeça.
Indo trabalhar e conversando com outro amigo, viajávamos falando. Passeamos por corrupção, Brasil, natureza humana e chegamos no trabalho.
Na empresa criaram recentemente um número maior de vagas preferenciais. Nos finais de semana, estas vagas estavam lotando pois, como é para ser, ficam em local privilegiado, mais próximo da portaria principal de entrada. A segurança da empresa, então, passou a interditar as vagas. Caso um real beneficiário da vaga precise, imagino que deva passar pelo incômodo de acionar a segurança para retirar um cone! Como estávamos lamentando a humanidade, comentamos: "Olha aí! É nas pequenas coisas que devíamos prestar atenção! Ninguém respeita o mínimo de regras!" No que eu lembrei que num supermercado próximo da minha casa há também as tais vagas. Talvez por não estar na região central, sobra espaço. As vagas preferenciais, claro, são em local privilegiado, então o que eu faço? Estando vazias, eu paro ali o meu carro quando tenho coisa rápida para fazer!
Bumba!
Olha a natureza humana aí! Se eu não sou portador de nenhuma necessidade  especial ainda, por que eu paro alí? E toda aquela indignação sentida com respeito aos desreipeitosos ocupadores de vagas caiu por terra! Eu sou um deles! Não são pequenas coisas que nos condenam, ora bolas?
E aquela reflexão sobre karuna estava lá no canto...
Normalmente, relacionamos compaixão imediatamente com sofrimento. Mas uma forma de compreeder karuna inteiramente, está em sentir-se como nada mais do que  o que se é, de acordo com a realidade exposta pelo Buddhadhamma: somos um composto condicionado, só isso! Sem um ego permenente para possuir este ou aquele status de bom ou ruim. São só condições, elementos kammicamente impulsionados. Há sementes germinando todo o tempo na dependência da escolha que fazemos: vivermos em atenção vigilante (satisanpajanna) ou apenas instintiva e habitualmente reagirmos aos estímulos do mundo em busca do sempre evanescente conforto que ele oferece. Há sentido na indignação com pessoas?
A questão é aquilo que germina dentro de nós todos. Sentirmo-nos iguais na miséria das ilusões é um poderoso fundamento da compaixão. Enquanto concebermo-nos indignados defensores da bondade e do amor, sem enxergar profundamente o lodaçal do qual fazemos parte, porque o lodo fermenta de nós, acho que não há como karuna ser compreendido e incorporado na nossa vida.

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