Deveria ter escrito antes. Já faz algum tempo que estou remoendo estes pensamentos e este texto saiu agora e agora eu vou escrever nenhuma novidade.
Como sempre, aliás.
Mas, na verdade, acho que quem quer novidade não deve passar em blog buddhista. E muito menos por este aqui. As atenções por este caminho aqui estão muito mais voltadas para o velho, o antigo, o fim, a perda, a separação, a cessação, a morte, enfim, para os outros cinquenta por cento do processo de existir. Aqueles que a gente evita. Somos bípedes tentando caminhar com um pé só: um passo é o surgir o outro é o cessar. Mas queremos andar só usando o surgir, quando usamos o cessar, costuma ser de leve, rapidinho e de olhos meio fechados. Resulta em tropeço e queda, talvez.
E tentamos cair com o surgir bem firme no solo.
Mas como eu começava a dizer, aquilo sobre o que eu deveria ter escrito, é que uma das coisas que me trouxeram ao theravada, ou ao buddhismo registrado nos suttas em pali, foi sati. Esta palavrinha, quando a ouvi (ou li) pela primeira vez, não me lembro onde nem como, reverberou em alguma coisa aqui por dentro. Ruminava e ruminava e buscava encontrar uma explanação sobre aquela palavrinha tão interessante. Uma vez perguntei a um monge ordenado numa das tradições tibetanas: "como é este negócio da atenção plena?" e ele abordou pelo lado da tomada dos preceitos e tal, que tomar os preceitos ajudava a manter a mente alerta e tal e não foi a resposta que resolveu plenamente o meu problema. Eu achava que tinha mais na tal de sati.
E segui insatisfeito e procurando.
Achei o theravada: sati! Aqui se fala de sati! E achei o satipatthana sutta! Deleitei-me neste sutta. Sem apreender muita coisa na época, e tenho muito ainda que estudar, ler e refletir, praticar, enfim... Mas foi o grande momento para o meu caminhar.
Quando eu li o Buddha dizendo que precisamos manter a plena atenção ao urinar e defecar, esta frase causou mais impacto na minha mente do que qualquer mantra sagrado que já houvesse recitado, qualquer instrução sobre a radiância da mente original que tivesse ouvido, qualquer descrição de reinos acessados por jhanas profundos... Foi um potente "ISSO! É ISSO! É POR AQUI A TRANSCENDÊNCIA QUE EU PROCURO".
E assim está sendo a minha busca. Neste corpo, nesta mente. Nas coisas ordinárias e comuns. Na morte nossa de cada dia. No relaxar a mente e ver o mundo acabando. Tentando levantar e caminhar com os dois pés, o surgir e o cessar. Enfim.
***
dia desses um kalyanamitta me disse: "e aí, quando vai montar seu grupo de estudo? para falar de dukkha, dukkha e dukkha? (rsrs)"
"iiih... hehehe... ninguém gosta de ouvir sobre dukkha!"
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