Os cinco agregados são dos temas
mais presentes e básicos no buddhismo. E, talvez, dos mais difíceis de
entender. Graças a nossa forma comum de conhecer o mundo, enxergando ‘coisas
substanciais’, tendemos a naturalmente substituir o entendimento de um ‘eu
substancial’ por um composto formado por ‘cinco agregados’ não menos
substanciais.
Mas no buddhismo não é assim.
Uma frase citada por Richard
Gombrich no livro ‘What The Buddha Thougth’, página 131, é potencialmente a frase epigráfica para toda a nossa jornada de compreensão pelo Buddhadahamma:
“para o buddhismo não há substantivos, somente verbos”.*
O que isso significa? Significa
que cada vez que pensamos em entidades estanques, ainda que como componentes de
alguma outra coisa, estamos errando, estamos patinando, atolados no ponto do
caminho que é o pântano da mente conceitual, com todo o seu rico, diverso e
perigoso ecossistema.
Os cinco agregados “infectados
pelo apego”, enquanto pensados como entidades, semelhantes a peças de um
quebra-cabeça, permanecem “infectados”, que é como eu traduzo o ‘affected’
usado pelo bikkhu Anālayo no trecho abaixo extraído do livro 'From
Grasping to Emptiness – Excursions into the Thought-world of the Pāli
Discourses (2)', página 24, que me pareceu um maravilhoso
desenvolvimento da frase candidata a epígrafe citada acima, no sentido de nos ajudar na jornada
de corrigir nossa visão através da lente do entendimento e da reflexão.
Esta correção de ponto de vista
me parece ser fundamental mesmo aos primeiros passos no Caminho
prevenindo o risco de se enraizar na lama.
Devido a esta noção inerente de
um sujeito substancial capaz exercer controle, os cinco agregados [infectados
por] apego são experienciados como corporificações da noção 'eu sou'. Do ponto
de vista comum, o corpo material é 'onde eu estou', sentimentos/sensações são
'como eu estou', percepções são 'o que eu estou' (percebendo), volições são
'por que eu estou' (agindo), e consciência é 'por meio do que eu sou'
(experiencio). Deste modo, cada agregado oferece sua própria contribuição para
o afirmar da ilusão tranquilizadora 'eu sou'. Tais noções 'eu sou' são,
contudo, superimposições errôneas por sobre a experiência, carregadas do senso
de um sujeito autônomo e independente que consegue obter ou rejeitar objetos
substanciais distintos.**
*for Buddhism there are no nouns,
only verbs.
**Due to this inherent notion of a substantial
subject able to exert control, the
five aggregates [affected by]
clinging are experienced
as embodiments of
the notion `I
am'. From the worldling's
point of view, the material body is `where I am', feelings are `how I am',
perceptions are `what I am' (perceiving),
volitions are `why I am'
(acting), and consciousness
is `whereby I am' (experiencing). In this way, each aggregate offers its
own contribution to enacting the reassuring illusion `I am'. Such
`I am' notions
are but erroneous
superimpositions on experience, conveying the sense of an autonomousand
independent subject that reaches out to acquire or reject discrete substantial
objects.
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