É frequente o incômodo causado pelo primeiro dos cinco preceitos dados pelo Buddha aos não monges como treinamento.
O Buddha para nós, buddhistas, foi o ápice evolutivo a que um ser pode chegar. Ele, claro, sabia que viver onde vivemos, sem matar, é praticamente impossível.
Embora ele tenha deixado claro que matar intencionalmente é o que deve ser evitado, o problema ainda persiste: "E quando precisamos matar"?
Na minha opinião, uma das causas fundamentais deste incômodo é a nossa arraigada incapacidade de exercitar uma virtude cardinal do buddhismo, a saber, o questionamento ou não aceitação tácita daquilo que nos chega, via sentidos, de forma óbvia.
Ora, e é óbvio que, vez ou outra (?), eu preciso matar um pernilongo, uma barata, um rato, uma formiga (ou imensas quantidades destes!), sem falar em vermes, parasitas... Então, eu preciso arrumar alguma justificativa para ir contra aquilo que o Buddha me disse, um discípulo Seu, para não fazer! Não me passa pela cabeça a tarefa, muito mais complicada, de pensar o preceito sob o ponto de vista do ensinamento completo, o dhamma todo. Não me passa pela cabeça questionar a legitimidade do samsara e dos relacionamentos samsaricos. A irresistível necessidade de adaptar o mandamento do meu Mestre ao imperativo samsarico do vir-a-ser. Apesar de o Buddha ter dito, também, que é melhor abandonar o samsara...
A incrustada resistência e a instintiva compulsão por adaptar o dhamma ao nosso modo de vida samsarico são a principal fonte de nossas dificuldades no Caminho. Talvez possamos começar a diminuir o nosso medo da correnteza do dhamma refletindo sobre a nossa inquestionável precisão de matar.
Um comentário:
a mesma atitude mental com relação ao "e se precisamos matar..." usamos para uma outra pergunta besta "mas como assim abandonar o samsara?" ehehehehe
A tal instintiva compulsão por dourar ( e o que mais couber) o envelhecer, o adoecer e o morrer...
abs.Fátima
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