quando um ser nasce, eu acredito que sua mente (ou parte dela, não sei bem) não surgiu com aquele corpo. acredito que mente é mente e matéria é matéria. duas naturezas distintas. e acredito nisso porque o Buddha assim ensinou, ao que parece. é algo em que confio. porque o Buddha, e isso é uma coisa que eu sei, foi muito preciso e acertou em muitas coisas, Suas instruções dão resultado, Sua teoria é extremamente coerente, Seu Caminho não me decepciona. quanto mais eu me aprofundo e pratico, mais desejo me aprofundar e praticar. então, minha experiência pessoal me garante este ato de fé sem problema.
porém, eu mantenho esta crença num compartimento separado. ela não é o que define e nem sustenta minha prática.
quando acreditamos que a mente segue num processo de condicionamento de um novo ser após a morte física, isto implica na aceitação da doutrina do kamma como definidor de alguns aspectos da vida daquele novo ser: méritos definem coisas boas, deméritos coisas ruins. doutrina que o Buddha declarou estar além da compreensão intelectual. e esta, sendo uma crença, não imediatamente verificável por experiência, tem um caráter dúbio. por exemplo: um buddhista como eu crê que está praticando o dhamma libertador do Buddha porque assim seu kamma o conduziu, ou seja, as ações passadas condicionadas pelas intenções deste mesmo contínuo mental frutificaram agora para que tal contato com o Buddhadhamma ocorresse, ou se repetisse, acontecimento digno de regozijo e alegria, um fator motivador. mas o mesmo raciocínio pode, em momentos em que outros fatores desta vida condicionam um estado mental menos animado, circunstâncias que, sabemos, não são raras, levar a pensar que os méritos não foram tantos assim, pois veja quão difícil é a prática, quão desprezível eu sou, ou o quanto minha vida é impulsionada por necessidades e tão pouco por escolhas...! e, num movimento vicioso, deixar claro para nossa mente obscurecida como será difícil acumular os méritos necessários para um bom nascimento ou despertar futuro! por essas, mantenho a crença no seu devido lugar.
e é no próprio Buddhadhamma que baseio este meu caminhar.
Ajahn Buddhadasa ensina que há três tipos de nascimento elucidados pelo Buddha: o convencional, aquele que todos conhecemos, o nascimento através dos órgãos dos sentidos que ocorre a cada contato estabelecido entre olhos, ouvidos, pele, etc. e seus respectivos objetos e o nascimento mental que ocorre a cada vez que a idéia de eu e meu surge na mente. e é a compreensão destes dois últimos nascimentos que é relevante para obter o resultado da prática do Caminho, a saber, o cessar de dukkha, pois nada mais que dukkha e o fim de dukkha foi o que o Buddha ensinou.
a compreensão destes dois já é bastante a se fazer, mas é a compreensão do que está aqui, ocorrendo agora, é só uma questão de vir e ver.
posso, assim, deixar a minha crença lá, nem pensar muito nela.
o nascimento que me interessa é este que ocorre agora.
a continuar, um dia...
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