procura-se por aquele que dormiu ontem e acordou hoje, que estava aqui e foi para ali, que quis e conseguiu, que começou e terminou. usa-se de todos os recursos para localizá-lo; pensa-se assim, contampla-se de outro modo, observa-se deste ponto e daquele, pondera-se, reflete-se, aquieta-se ao extremo, espreita-se...
e nada.
aquele, sempre tão sólido, agora é vaporoso. incerto, tremula e some diante das vistas. mera visão.
um nada.
mas com este mesmo nada, então, algo se confronta: é isto que ocorre.
ocorre este toque.
ocorre este pensamento.
ocorre este som.
ocorre este ir e este vir.
e esta dor.
deste confronto uma alternativa apenas: havendo isto, aquilo surge; isto cessando, aquilo cessa.
depende.
só dependência.
ninguém imune ao ocorrido. ninguém seguro a observar o desenrolar dos atos.
ninguém vive.
nenhuma testemunha.
e é esta ausência que revela o vão.
esta ausência é que apaga a graça.
aos poucos, aos poucos, a constatação de não haver ninguém, vai gerando apreensão diante da possibilidade do ocorrer este toque, aquela visão, outro som, um ir e vir, mais uma dor, prazer, ilusão. pois nada sobra, nada fica, nada resta, não há. só ocorre e acaba. morte.
sem espectador, não há espetáculo.
só há espetáculo.
nenhum espectador.
Um comentário:
Hum, e agora? Sem espectador há ou não há espetáculo ?
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