a metáfora que vou apresentar a seguir nas minhas palavras aparece no oitavo sermão da série 'nibbāna - the mind stilled' do nunca suficientemente venerado venerável bhante katukurunde ñanananda. elaborada, rica e luminosa como é o todo de seus preciosíssimos textos, penso que a contemplação cuidadosa desta analogia pode fazer surgir um entendimento profundo. passemos a ela.
imagine longos cabos ou cordões. ao redor e ao longo de um os outros serão enrolados para formar uma corda. duas pessoas se põe, uma em cada extremo, para realizar a tarefa. para que surja a corda, cada um deve enrolar no sentido contrário do outro, note bem este detalhe. um terceiro elemento, digamos eu, se posiciona no meio entre os extremos sem ser notado (faça um esforço para aceitar isso) e segura os tais cordões num ponto de modo a impedir o enrolamento naquele ponto.
nos dois extremos os enroladores começam a sua tarefa. porém, eles começam e permanecem enrolando no mesmo sentido, para o mesmo lado, note bem também este detalhe. com o ponto intermediário preso por mim, mesmo com os extremos sendo enrolados na mesma direção uma corda começa a surgir e a se tornar cada vez mais corda, mais rígida, mais tensa conforme o trabalho prossegue.
então eu, num dado momento, quando uma bela corda é aparente, resolvo soltar aquele ponto. o que ocorre com a corda? ela imediatamente se desfaz. pela própria tensão acumulada, uma vez que o enrolamento foi feito na mesma direção nos dois extremos, o desenrolamento espontâneo revela que nenhuma corda foi construída, ela só existiu na dependência do ponto em que eu estava agarrado.
pense nisso.
uma corda só poderia ser feita se houvesse a discórdia entre os dois extremos, um teria que girar para o lado oposto do outro, se os dois lados estiverem em acordo, nenhuma corda poderá surgir.
e eles sempre estiveram em acordo, ambos giravam para o mesmo lado, mas o eu agarrado no meio criava uma aparente discordância e uma aparência de corda surgiu.
assim é com nossa mente e os seus objetos. ambos giram para o mesmo lado da impermanência (anicca), do sofrimento (dukkha) e da ausência de ego (anattā), mas uma aparência de permanência, de felicidade e de eu se mantém agarrada no meio nos fazendo construir (saṅkhāra) um mundo em completa discordância com a realidade, trançando cordas que nos prendem ao saṃsāra. a qualquer momento em que este apego ao meio se desfaça, a corda se descorda, entramos em acordo com o mundo e começamos acordar.
estas últimas linhas um tributo a humberto gessinger.
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