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sexta-feira, 4 de outubro de 2013

arredondadores da roda

recebi link para uma matéria e uma entrevista com um novo sábio. quem me enviou queria saber se eu conhecia. fui lá. e concluí que o novo sábio é mais um daqueles que eu costumo chamar de arrendondadores da roda. porque nada vejo surgir de novo das palavras que ajuntam. o arredondador em questão, pelo que li sobre, escreveu já mais de mil páginas conectando vários ramos do saber humano rumo a uma holística integração de tudo. e do resumo das suas ideias nada me iludiu.
as obras dos arrendondadores me causam a sensação de legos. você passa um tempo montando e resulta um carrinho, uma nave ou outra coisa já sabida de antemão e, por si mesma, sem graça e precária. o prazer esteve em encaixar as peças. o valor do resultado final depende é da imaginação. 
é assim com os arrendondadores: o prazer está em montar o palavrório e levitar nos loopings filosóficos. e só. o resultado final é algo já sabido. mas queremos que seja novo.
os arrendondadores tem admiradores. 
nossa tendência, conforme explana o bhante katukurunde ñāṇananda e como já publiquei por aqui recentemente citando o erudito david kalupahana, é nos encantar pelo complexo e nos cegar para o simples. por mais, e quanto mais, evidente seja, mais buscamos pelo oposto. considerando isso, vislumbramos amplitude e profundidade até então talvez não aparentes na afirmação do Buddha de que seu ensino ia contra a corrente do mundo. uma afirmação simples e clara como sempre.
atualmente penso eu que, para nós, macacos pelados, a compreensão de anicca, dukkha e anatta (impermanência, sofrimento e não-eu) é o que basta para uma vida, seja como tarefa, seja como solução. nada mais eu vejo como necessário. mas a contemplação destas três características implica em confrontar, além daquela paixão pelo complicado, uma outra que nos alimenta essa antipatia pelo simples: a de querermos ser divinos. a mesma inteligência que nos faz símios capazes de saber a evidente miséria, vanidade e instabilidade do existir, nos torce o olhar para o alto, para a criação das mais variadas opções de redenção e divindade e fuga do óbvio. 
enquanto sob os pés o chão continua a ruir, os corpos a contrariar, as mentes a criar do nada coisas cujo único propósito é continuar surgindo e perecendo.

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