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sexta-feira, 4 de julho de 2014

fundamento

Dia desses me perguntaram: "o que você diz quando te perguntam quais são os fundamentos do theravada?" Eu respondi: "ninguém me pergunta isso!" 
Verdade. O mais profundo de que me lembro foi o "no que o buddhismo acredita?" 
Muito melhor a pergunta sobre o theravada. Porque mais difícil de responder. Por isso mesmo vou escrever o que eu responderia.
Há, penso, algumas respostas.
Aqui cabe um trecho do livro meanings que diz: ...a religião buddhismo, um fenômeno social e histórico relacionado, mas distinto dos ensinamentos do Buddha, surgiu e cresceu, transformando-se e proliferando-se (pág. 10 da edição digital, 2º parágrafo).
Citado isso, me obrigo a começar por esclarecer o que entendo ser o theravada, eu diria que é o grupo buddhista que toma o cânone pali como autoridade final. Significando que qualquer que seja o buddhismo ensinado, tal ensinamento precisa ser rastreado até o cânone pali, em letra e/ou em significado para ser aceito como buddhismo por este grupo. Ponto.
E fiel a esse ponto, eu, que me considero parte desse grupo, seguiria em diante dizendo que o fundamento deste theravada que eu concebo são as palavras do Buddha registradas nos suttas pali e reproduzidas ao aqui ao lado no blog; uma frase que é o que alimenta minha prática pessoal e deve me levar até o nibbāna se eu, um dia, a realizar completamente - disse o Buddha, mais ou menos assim: eu ensino só duas coisas, dukkha e o fim de dukkha. No lugar de dukkha, cabe tudo que não queiramos, assim como muito que, por ignorância, queremos. Para simplificar, traduzimos dukkha por sofrimento. Então, o Buddha ensinou o sofrimento e seu fim.
Aí cabe outra frase do livro citado acima: a fim de conhecer o sofrimento não é suficiente apenas sofrer (3ºparágrafo do primeiro ensaio, Feelings Are Suffering).
Não, o sofrimento não é o que pensamos. Nem conhecê-lo é.
Em Clearing The Path, escreve Ñāṇavīra TheraO leitor,(leitor ideal daquela obra, que comenta os suttas pali) presume-se subjetivamente envolvido num problema angustiante, o problema da sua existência, que é também o problema do seu sofrimento (prefácio, 1º parágrafo).
Voltando, só estas duas coisas é uma resposta possível. Duas coisas que pensamos conhecer bem, principalmente quando não pensamos sobre elas. 
Talvez, pudesse até elaborar um pouco mais e dizer que o theravada se fundamenta em nos despertar a atenção àqueles momentos que provocam a busca ideal de que fala Ñāavīra Thera. 
Há momentos em que nalgum lugar fagulha a impressão de que dukkha, a primeira coisa ensinada pelo Buddha, não é só a dor de barriga, mas também a feijoada; dukkha não é só o divórcio, mas também o apaixonar-se; dukkha é a morte, mas também o nascimento. 
E aí mesmo a segunda coisa: esta fagulha, se alimentada corretamente até tornar-se chama de sabedoria realizada, consome-se e apaga, sem deixar vestígio.
Fim da resposta e, eu sendo bem sucedido, fundamento para muitas perguntas mais.

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