mais uma tradução devidamente revista.
e autorizada pelo autor.
aqui o original.
e aqui.
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Existência Significa Controle
Por Bhikkhu Ninoslav Ñāṇamoli
Para que algo exista (bhava), a fim de que exista em um sentido
completo e apropriado, tal coisa tem de estar presente, em primeiro lugar, na
forma de uma experiência plena. Quando eu digo "presente", isto deve
ser entendido no sentido de que só podemos "encontrar" as coisas se estas
já estão lá, no mundo. (Cf. a afirmação de Sartre em O Ser E O Nada
que cada coisa nos chega com o passado). O fato é que as coisas só podem
ser encontradas quando já estão presentes e isso significa que -
fundamentalmente falando - estão além do controle1,
não se pode ser o seu criador. Assim, a experiência como um todo não
pode ser controlada; o máximo que uma pessoa pode fazer é modificar um já
determinado estado de coisas, em um nível mais específico.
Tome-se os cinco agregados como exemplo: a sua natureza é aparecer,
desaparecer, e mudar enquanto aparente, de acordo com o que é. É somente
por upādāna que esta característica é obscurecida2,
e ao invés dela, em tal caso, o ego aparente torna-se o agente fundamental do
processo ou, pelo menos, esta é a forma como ele aparece a um puthujjana. Aquele
que não está livre de upādāna, e da certeza de um ego, confunde o fato
de que os cinco agregados (ou, neste caso, os cinco agregados apegados) podem
ser modificados ou afetados, uma vez que surjam, com a noção de que eles podem
ser controlados. Esta noção de controle também suporta (ou nutre) a visão de
que o 'eu' é seu criador, o que por sua vez alimenta aquela noção, e assim
indefinidamente. É por isso que com o 'ego' surge a percepção de domínio sobre a própria
experiência
Attā, "eu", é fundamentalmente uma noção de domínio sobre as coisas.
(Ñāṇavīra Thera, Notes
on Dhamma, DHAMMA)
O ego, então, como um "mestre", aparece como algo diferente,
algo além dos cinco agregados apegados. Além disso, o ego continua
achando a prova de sua existência constantemente ao interferir e modificar
(quando possível) os estados surgidos dos cinco agregados apegados. O ego
encontra prazer em fazê-lo.
Por outro lado, se o ego visse que, a despeito de toda a prova, o seu
domínio na verdade requer (ou diretamente depende) dos cinco agregados, a noção de
controle cessaria3. Isso deixa claro que o
"ego" não pode exercer qualquer controle fundamental sobre o seu
aparecer, desaparecer e mudança enquanto aparente. É por esta razão que por
contemplar isto pelo tempo suficiente é possível tornar-se um arahat:
Então, monges, naquele tempo, o Buddha Vipassī
permaneceu contemplando o surgimento e a cessação dos cinco agregados apegados
... E conforme ele permaneceu contemplando o surgimento e a cessação dos cinco
agregados apegados, em pouco tempo sua mente se libertou do grilhões, sem restar
vestígio.
(Mahāpadāna Sutta, Dīgha-nikāya 14 / II, 35)
Notas:
1 Ainda que se
possa controlá-los, primeiro eles têm
que existir. Em outras palavras - por sua própria natureza o controle é visto como algo além do nosso
controle.
2 De fato, não
é só a característica que é obscurecida, os cinco agregados não são vistos na
maioria das vezes.
3 Porque para
um puthujjana não é suficiente ver isso uma apenas vez. É somente com a
repetição deste insight (alcançado através do esforço), que a visão habitual de
controle irá desaparecer, e ser substituída (aos poucos também) pelo ponto de
vista de uma inerente falta de controle - a visão da impermanência.
Quando se vê que a impermanência subjaz a todos os projetos do ego, o ego deixa
de ser ego, pois sem exercer controle essa individualidade não pode subsistir. (Cf.
Ñāṇavīra
Thera, Notes on Dhamma, PARAMATTHA SACCA, parágrafo 6)
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