"A noção que temos do espaço como uma estrutura contínua é apenas uma aproximação; se pudéssemos ampliá-lo com um super microscópio imaginário, veríamos um caos difuso, como bolhas de sabão amontoadas umas sobre as outras, vibrando, colidindo. Nessas distâncias minúsculas, muito menores do que o tamanho de um núcleo atômico, a própria noção de movimento como um processo contínuo deixa de fazer sentido; todo movimento é descontínuo, consistindo em saltos."
Ao buddhista estudioso e/ou praticante, este trecho do novo livro do físico brasileiro Marcelo Gleiser - A Ilha do Conhecimento - pode bem ser a descrição de estados avançados na prática da meditação vipassana.
O seguinte poderia ser um trecho de uma palestra sobre paticcasamuppada: "...o universo não 'existe lá fora', independentemente dos atos de observação. Pelo contrário, de forma ainda misteriosa, o universo é participatório." Mas é uma citação do físico teórico John Wheeler, feita no livro, para ilustrar o impacto que as observações e medições oriundas das pesquisas em física quântica tem na nossa concepção da realidade.
Já passei da fase de buscar validação científica para o buddhismo, mas continuo interessado em ciências e impressionado pelas convergências, geralmente nos pontos mais profundos, entre as duas abordagens. A ciência, em seu caminho de objetivação, medição, análise e replicação da realidade reafirma muitas das coisas do caminho buddhista da investigação introspectiva e vivência pessoal intensa.
Neste livro, uma continuação do anterior - Criação Imperfeita - do qual já falei aqui, o autor desenvolve o questionamento das nossas limitações no que se refere a uma compreensão final e definitiva da realidade e o quanto o aprofundamento desta mesma compreensão corrobora a adoção de uma postura humilde e pragmática diante do mistério que nos envolve, tanto quanto daquilo que conseguimos saber, tornando-nos ilhas.
Na passagem ocorrida no bosque de sinsapa o Buddha deixou claro a razão de sua vida e de seu ensinamento. De toda compreensão que se possa ter da realidade, desde que ela sirva ao propósito declarado pelo Buddha, não há importância no tanto que se conhece e menos no tanto que permaneça desconhecido. O propósito é o fundamental para o buddhista. É saber porque sentar-se, porque manter a vigilância, porque esforçar-se, porque manter os preceitos que dirige a busca pelo conhecimento, e do conhecimento pessoal e direto o Buddha afirma a libertação, tornando-nos, justamente, ilhas de conhecimento no oceano do saṃsāra. Se o conhecimento final e absoluto, cada ilha saberá por si.
Se clicar nos links nem precisa ler o texto!!
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