uma característica que os meus conviventes me imputam é transparência. alguns dizem que gostam por saber o que eu penso, outros não dizem nada. alguns dizem que 'eu só digo a verdade'. obviamente que esta última afirmação é um exagero, dissesse eu somente a verdade estaria vivendo feliz num eremitério, coisa a que minha capacidade de ser feliz ainda não chega. dependo de uma omissão ou outra, uma concessão aqui, outra ali...
mas, ainda assim, busco o compromisso com a sinceridade, comigo e com minhas relações.
vez ou outra alguém lacrimeja, enrubesce, se afasta ou se assusta. mas quase sempre os pedidos por minha opinião sobre situações ou assuntos continuam, mesmo daqueles de uma forma ou outra contrariados. continua existindo, apesar de toda a predileção por panos quentes, a consciência do poder terapêutico do banho de água fria.
e esta sinceridade com outros é a parte fácil, apesar de tudo. difícil é ser consigo próprio. talvez este o maior desafio para um buddhista: conciliar aquilo que ele vai percebendo, na medida em que sua prática resulta, com aquilo que vê da vida com seus olhos ainda empoeirados. conciliar a limitada capacidade de ser feliz com o entendimento cada vez menos impreciso do que possa ser a felicidade.
Um comentário:
"continua existindo, apesar de toda a predileção por panos quentes, a consciência do poder terapêutico do banho de água fria."
Ótima definição! Nunca havia pensado dessa forma, até porque acredito que a preferência pelo banho de água fria seja, na realidade, inconsciente. As pessoas, ao meu ver, pedem opinião achando que vão ouvir algo cor-de-rosa. E, invariavelmente, surpreendem-se com a verdade da água fria...
"e esta sinceridade com outros é a parte fácil, apesar de tudo. difícil é ser consigo próprio."
preciso dizer mais?
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