Quem passa por aqui percebe que eu tenho um problema com autoridade. Se não percebe eu afirmo: tenho.
Muito cedo, como digo em textos atrás, por volta dos dez, onze, comecei a notar a falta de sentido de deus, autoridade mor, simbólica de outras com as quais já me indispunha, mas reais e difícil de peitar.
Na minha lembrança, da que dizem ser caraterístico o falsear coisas, me incomodava tanta empáfia e onipotência para nenhuma presença, nenhum sinal, nadica de nada. É como lembro, podendo até ser isso mesmo.
Na minha lembrança, da que dizem ser caraterístico o falsear coisas, me incomodava tanta empáfia e onipotência para nenhuma presença, nenhum sinal, nadica de nada. É como lembro, podendo até ser isso mesmo.
Aí, já menos criança, surgiu o Buddha na minha vida. Um ser humano comum, embora não tão comum, então, mas aceitável. Um tanto divinizado pelas fontes que mo apresentavam, resultante de vir sendo moldado pelas necessidades humanas ao longo do tempo e do espaço, penso eu, mas ao menos não criara o universo! O que passou a ser minha via foi a busca pelo homem que despertou, e fui por ali, sempre atraído pelo Buddha que morreu com diarreia. Àquele outro, todo iluminado, deixando por onde encontrava.
E o Buddha histórico, com quanto mais dele me encontro, mais é fascinante e inspirador como nenhum ser divino consegue ser!
Estou terminando o livro What The Buddha Thought do acadêmico Richard Gombrich. Numa primeira leitura fica muito que só outras tornarão claro, mas neste final de livro, o capítulo sobre a construção do vinaya é especialmente agradável. Devo dizer que o livro me conquista logo no início ao descrever o Buddha como transformador da ironia em instrumento do despertar, claro que isso soa lindo para mim! O autor sustenta suas afirmações abordando o Buddha e seus sermões como resultados do seu ambiente sociocultural. Os ensinamentos, o pensamento do Buddha, conforme a proposta do livro, são esclarecidos como algo produzido sob um contexto e, contrariando o que uma consideração ligeira desta abordagem possa sugerir, de plena originalidade. E dirigindo às pessoas comuns de sua época, é um Buddha astuto, bem humorado, contestador e de ácida habilidade verbal.
Como eu dizia, do vinaya, o código de ética buddhista para a ordem monástica, é iluminador saber que o Buddha o foi construindo com base na tentativa e erro, nas palavras do autor. O Buddha ia elaborando as regras na medida em que seus discípulos iam fazendo cagad... cometendo deslizes que implicavam em problemas, conflitos internos ou má reputação perante as comunidades. Muito interessante que o Buddha, inclusive, não hesitava em voltar atrás em alguma regra dependendo do que fosse necessário. Num dos exemplos narrados no livro: em dada situação que virara problema, o Buddha proibiu que bikkhus instrutores tivessem sob sua guarda mais de um noviço. Num outro momento ele admite que para bikkhus competentes tal regra não valia. É ou não um mestre sem igual, este Buddha? Não é o tipo de mestre cujo argumento mais forte é o manto que usa ou a luz que emite, aquela mesma que só seres especiais podem ver... e acaba invariavelmente causando mais problema que solução.
Esse Buddha que vai pela minha cabeça, eu o vejo, diante de um imbróglio ou outro causado por alunos demasiadamente humanos, menear a cabeça, arquear sobrancelhas, coçar a testa e sussurrar levemente desencantado: "Ai meu deus! Lá vou eu criar outra regra!!!"
Apreciar o Buddha humano requer estudo, não creio que muito mais que isso. O Buddha divino requer outras qualidades, para mim mais difíceis de cultivar.
A virtude da fé é das minhas faltas mais evidentes. Mas quando alguém me convence por meio de exemplo, de coerência na conduta, ganha minha religiosa confiança, minha atenção e meu interesse crescentes. E o que me chega da vida e pensamento do homem que nasceu, despertou, ensinou e morreu aqui nesta terra impura me deixa cada vez mais carola.
Como eu dizia, do vinaya, o código de ética buddhista para a ordem monástica, é iluminador saber que o Buddha o foi construindo com base na tentativa e erro, nas palavras do autor. O Buddha ia elaborando as regras na medida em que seus discípulos iam fazendo cagad... cometendo deslizes que implicavam em problemas, conflitos internos ou má reputação perante as comunidades. Muito interessante que o Buddha, inclusive, não hesitava em voltar atrás em alguma regra dependendo do que fosse necessário. Num dos exemplos narrados no livro: em dada situação que virara problema, o Buddha proibiu que bikkhus instrutores tivessem sob sua guarda mais de um noviço. Num outro momento ele admite que para bikkhus competentes tal regra não valia. É ou não um mestre sem igual, este Buddha? Não é o tipo de mestre cujo argumento mais forte é o manto que usa ou a luz que emite, aquela mesma que só seres especiais podem ver... e acaba invariavelmente causando mais problema que solução.
Esse Buddha que vai pela minha cabeça, eu o vejo, diante de um imbróglio ou outro causado por alunos demasiadamente humanos, menear a cabeça, arquear sobrancelhas, coçar a testa e sussurrar levemente desencantado: "Ai meu deus! Lá vou eu criar outra regra!!!"
Apreciar o Buddha humano requer estudo, não creio que muito mais que isso. O Buddha divino requer outras qualidades, para mim mais difíceis de cultivar.
A virtude da fé é das minhas faltas mais evidentes. Mas quando alguém me convence por meio de exemplo, de coerência na conduta, ganha minha religiosa confiança, minha atenção e meu interesse crescentes. E o que me chega da vida e pensamento do homem que nasceu, despertou, ensinou e morreu aqui nesta terra impura me deixa cada vez mais carola.
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