ser bom, ser ético, ser digno do que é dito ser humano não é simples nem fácil. quem tenta de verdade, sabe. embora a vida fique clara e leve quando se tem sucesso, o sucesso não vem sem alguma dor. pensemos que o comportamento ético dificilmente traz os ganhos que nos ensinam a valorizar e, geralmente, implica nalguma perda imediata e até posterior. poucos são os que se permitem perder.
mas essa dificuldade, esse passo gigantesco e árduo que é o exercício de ser bom, parece não ser suficiente para alguns...
não é raro, em palestras dadas por professores buddhistas, surgir aquela modorrenta questão: "mas não é verdade que todas as religiões podem levar à iluminação, professor?"
não basta os caminhos todos estressarem a importância fundamental de ser bom, ser bom mesmo. os caminhos religiosos falam de ser bom como quase ninguém no mundo conhecido é. famosa a passagem do Buddha alertando aos seus seguidores que se aquele que, tendo seus membros serrados, nutrir raiva por quem os serra, não pode se considerar Seu discípulo.
eis o tamanho do imbróglio. mas basta isso? que nada! o que preocupa as pessoas é igualar, de qualquer jeito, nibbāna, fusão com o universo, unidade com deus e por aí adentro no emaranhado de concepções sobre aquilo que ninguém sabe se é...
que me importa a iluminação a que você chegou ou quer chegar? absolutamente nada. me basta que você não tome meu lugar numerado, não estacione em fila dupla, não cante a minha mulher. funda-se com seu deus a vontade se você me deixar em paz na minha busca pela cessação. conte, inclusive, com a minha ajuda no que me for possível.
e não me venha querer dizer que o objetivo do buddhismo é o mesmo que o seu, que nós vamos para o mesmo lugar e tal. eu não quero ir com você. simples assim.
até onde eu cheguei na minha compreensão do Buddhadhamma, o Buddha ensina o nibbāna como sendo a solução. e nibbāna é apagamento, extinção.
ponto.
extinção do quê? de compor coisas ignorando que são compostas. é nesse aqui que estou. e aqui, me parece claro, só o Buddha ensinou isso, talvez para tristeza de alguns.
é possível que alguém mais tenha chegado, ou venha a chegar, no mesmo que o Buddha sem a ajuda do Buddha? quem sou eu para saber isso e que importância tem saber isso diante da tarefa árdua que é fazer o básico que certamente este alguém teve ou terá que fazer para chegar lá?
eu acho que é bom a gente pensar nisso um pouco e parar com essa mania de importunar os outros com o que só importa a cada um individualmente.
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