poucos dias atrás, no trabalho, alguém me diz: "cara, a beleza da vida são os altos e baixos, alegrias e tristezas, os revezes e oportunidades". quem passa por aqui imagina o que eu disse.
mas vai que imagine errado, vou dizer o que eu disse: "é". só isso.
eu só disse "é".
porque é assim que as coisas são. a pessoa só segue o giro reagindo e ecoando o que vem do mundo.
e, para nossa alegria, entre buddhistas há também este ecoar.
gostamos de encontrar o sentido da vida numa margarida. 'a vida é bela! contemple a beleza de uma margarida! celebre a existência da margarida!'.
mas na verdade, o próprio fato de precisarmos de uma margarida para 'sentir' é o problema. ao menos falando como buddhista até onde eu entendo o Buddhadhamma.
no aryiaparyiesana sutta o Buddha conta que fez a si mesmo, antes do despertar, a seguinte pergunta: por que estando eu sujeito ao envelhecimento, doença e morte (sujeito à impermanência e dukkha) busco por aquilo que também está sujeito como eu? o Buddha é sempre simples e direto, extrapola na sinceridade que evitamos.
o alívio que vem da visão da margarida é só isso mesmo, um alívio pífio, pode ser saudável e funcional, mas nada mais. precisamos deste alívio para seguir na busca que o Buddha ensina como sendo nobre, a saber, estar em paz com ou sem margaridas, céu azul, briza fresca e etc. paz que vem da penetração franca e corajosa, e aí está aquilo que torna o Buddhadhamma o mais fantástico dos caminhos para a felicidade, na natureza capenga da margarida, na futilidade e completa inutilidade da existência de uma margarida. mergulhar destemidamente na investigação de dukkha sem se deixar enganar pelas flores do caminho. esforçarmo-nos em não permitir que qualquer alegria condicionada nos faça esquecer que 'é só dukkha que surge e cessa'. um sorrisinho aqui, um suspirosinho ali mas o que interessa é a felicidade de se compreender a si mesmo, cada vez mais claramente, como suportando algo difícil de suportar em nome de se fazer capaz da busca nobre. como diz o venerável +Bhante Katukurunde Ñanananda no segundo sermão da série Nibbāna - The Mind Stilled com respeito à natureza da existência:
All that is there, is a bearing up with difficulty. And this in fact is the meaning of the word dukkha. Duḥ stands for 'difficulty' and kha for 'bearing up'. Even with difficulty one bears it up, and though one bears it up, it is difficult.
Tudo o que há é um sustentar/suportar com dificuldade. E isto de fato é a significação da palavra dukkha. Duḥ significa 'dificuldade' e kha 'suportar'. Mesmo com dificuldade suporta-se e, embora suporte-se, é difícil."
Visite: +Bhante Katukurunde Ñanananda
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