A frase que me guia pelo estudo e prática do buddhismo foi proferida pelo Buddha no Anurādha Sutta como resposta final a uma série de perguntas especulativas sobre o que acontecia a um Desperto após a morte: pubbe cāhaṃ Anurādha etarahi ca dukkhañceva paññāpemi dukkhassa ca nirodhaṃ. Tanto antes como agora, Anurādha, é somente o sofrimento e a cessação do sofrimento o que eu proclamo.
Ou seja, alguém chega até o Buddha flutuando numa nuvem de especulações e idéias e Ele puxa tal pessoa pelo pé e põe de volta no chão. É um movimento comum nos discursos do cânone antigo. Inclusive no vasto uso de metáforas empregadas pelo Buddha, elas sempre são no sentido de tornar palpável coisas que parecem etéreas, é sempre um direcionar para a experiência, para a experienciação sensorial/sentimental ou, me arrisco a dizer, "sensacional", as imaginações, ideações, conceitos. Há um sutta, não me lembro qual agora, em que o Buddha diz que um Arahant sabe que livrou-se das corrupções latentes da mente da mesma forma que um homem saberia ter seus pés e mãos cortados. Isto é sensacional. Todo o caminho buddhista é no sentido de arrefecer a dicotomia mente/matéria apesar de a gente, muitas vezes, persistir no contrário.
É comum chegar ao buddhismo flutuando nas mesmas nuvens que o Anurādha. Há quem fique nisso por muito tempo, a pensar sobre estados elevados de consciência, conhecimento de vidas passadas, poderes, luzes, cores e iluminações, condicionando seu caminhar espiritual a achar um pote de ouro no fim do arco-íris. Um aspecto pernicioso desta estagnação para um buddhista é que este tipo de pensamento garante que a pessoa continue escrava do mundo com a boa desculpa de que 'ainda não tem realizações, ainda não chegou lá, então tudo bem uns escorregões aqui e ali'. Exatamente como acontece com alguns teístas cristãos. Gosto de dialogar sobre religiões em geral e sempre que dá deixo claro minha opinião sobre Jesus ser um modelo a ser seguido, não é raro ouvir um 'ah, mas Ele É O FILHO DE DEUS, né?'. Triste.
Enquanto isso, lá no Satipaṭṭhāna Sutta, o Buddha afirma que o Despertar pode ocorrer em dias se a atenção vigilante for plenamente estabelecida no defecar e urinar entre outras coisas que se faz aqui no chão.
Enquanto isso, lá no Satipaṭṭhāna Sutta, o Buddha afirma que o Despertar pode ocorrer em dias se a atenção vigilante for plenamente estabelecida no defecar e urinar entre outras coisas que se faz aqui no chão.
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